Chegou então o dia...
O Dia da Consulta Tenebrosa!
Eu confesso a vocês que acordei sem vontade de ir (minha “voz”
interna dizia que o tal complexo era comigo e não, como o Eds achava, com Mme
Folle).
Liguei (de onde estava mesmo, debaixo das cobertas) para a
minha mamãe:
- Ai! Não quero ir, mas tenho, pra saber o que vai dar nessa
história toda. Preciso saber, mas falta-me ânimo.
Como ótima mãe que é, recebi a injeção de ânimo que
precisava. Levantei-me, tomei banho e fui firme e forte saber o veredicto!
No caminho, a cena mais cômica e ridícula da minha vida (e
olha que eu sou uma colecionadora de cenas cômicas e principalmente
ridículas!). Eu, no carro:
Uma música sobre ter o coração partido, sobre sentir raiva
da pessoa que você ama, mas não desistir dela pelo que ela faz que te deixa
triste e te machuca (claro que a música É de amor), mas eu estava pensando em
quem?
Na Dra. Gairmiúla!!!
E pior! Chorando!!!!
Tá! Podem rir de mim... Eu disse que era a cena mais
ridícula da minha vida...
Enfim... Chegando lá, fomos ao consultório - friamente
Freudiano - e tudo começou:
- Então, Dra. Gairmiúla, li sobre o complexo de Electra (fiz
um breve relato sobre o que li) e não sei onde ele se aplica em mim...
Dra. Gairmiúla diz:
- Então, Candence, quando você leu o último texto, sobre a
Mme Folle, você disse a seguinte frase: “Nós duas disputamos o amor do mesmo
homem.”
Minha reação:
- Sério? Não me lembro de ter escrito, nem lido isso! Vou
ler o texto quando chegar a casa!
Dra. Gairmiúla:
- Faça isso!
E Continuou:
- Quando seus pais se separaram, você estava na fase do
complexo de Electra, e quando eles perguntaram com quem você queria ficar e
você escolheu seu pai, sua mãe deixou. Ela não rompeu o complexo de Electra. É
como se ela dissesse: “ Pronto filha, ele é seu agora!”
Minha reação?
Vish, que loucura! Não lembrava mesmo de ter lido ou escrito
aquela frase que a levou a tal conclusão, e teria que esperar chegar a casa
para ler com calma o texto e ver no blog como ele estava escrito (se você leu o
texto, já sabe que tal frase não existe!).
Minha reação inicial foi chorar, o que em minha opinião é
natural, afinal eu tinha confiança nela, estava em terapia com Dra. Gairmiúla a
um ano e cinco meses e se ela disse isso. Eu tinha que aprender a lidar com
mais uma “doença”.
O que você, leitor, faria se descobrisse uma nova doença?
Acredito que se não chorasse, pelo menos ficaria triste.
Eis que Dra. Gairmiúla me pergunta:
-Porque está chorando? O que está sentindo?
Eu respondi:
-Sei lá, é uma mistura de sentimentos e estou confusa, não
consigo descrevê-los. Sinto raiva, frustração...
Ela me questiona:
- Você está deprimida?
Senti revolta, e respondi:
- Não! Só porque estou chorando? Acho normal chorar em uma
consulta psicológica. É o lugar mais adequado para chorar, eu diria!
- Leia no livro dos diagnósticos médicos, que você verá que
está com depressão leve por causa do transtorno afetivo bipolar.
Eu rebati:
- Bom, todas as vezes que estive deprimida, eu fiquei de tal
maneira que não teria vindo à consulta! Além disso, tomei meu banho, me arrumei
e estou enfrentando a situação. Só estou emocionada, isso é natural! Além
disso, quem esta deprimida sai daqui, vai para casa e se enfia na cama; eu vou
procurar algo prazeroso pra fazer e esquecer essa consulta!
- Ótimo! Mas é depressão leve, pesquise, e é natural de quem
tem transtorno afetivo bipolar.
PAUSA
Eu odeio quando uma pessoa (seja ela quem for) justifica
algo natural, como chorar por ter descoberto que se tem mais um “problema” de
saúde, com a desculpa de que é por causa do transtorno bipolar. Pior ainda, é
aquelas que não entendem do assunto, e chamam de bipolaridade. Fala sério! Bipolaridade?
Quem tem bi-polaridade, deve ser pilha!
Eu tenho transtorno bipolar do humor ou transtorno afetivo
bipolar, e mesmo assim, não é por isso que tudo que faço e sinto é por causa
dele! Ainda tenho uma personalidade, defeitos e qualidades. Isso não conta?!
Tudo é o transtorno bipolar agora!!! Acho esse tipo de pensamento triste!!!!
Agora me digam: se você se frustrar com uma doença nova, com
uma coisa que queria e não conseguiu e chorar, você está deprimido?
Não, né! Você está emocionado com uma situação, isso é
HUMANO!
ATENÇÃO!
Antes de eu ter transtorno bipolar do humor, sou HUMANA!
Choro por motivos humanos como qualquer outra pessoa que não tenha um
transtorno, e eu acho que o caso descrito acima era esse, e não depressão
(depois eu falo mais sobre isso)...
A conversa continuou: ela dizendo que, se eu for trabalhar
naquele estado de humor, as pessoas vão reparar (como se eu não soubesse a
diferença entre um consultório psicológico e um ambiente de trabalho), e que
ela é uma profissional (isso foi enfatizado diversas vezes - em minha opinião, desnecessariamente),
e acabamos a seção com a Dra. Gairmiúla dizendo sobre meus textos:
- Você escreve bem, tem futuro! Eu tive um paciente esquizofrênico
que tinha crises paranóicas e de perseguição horríveis, até que elas passavam.
Um dia, ele se lembrando delas, passou a rir de tudo aquilo. Acontece que, com
o tempo, ele começou a perceber quando entrava em surto e ria da situação. Essa
forma lúdica de lidar com o problema foi a cura para ele, e eu acho que seus
textos te levam ao mesmo caminho, e ainda fazem com que você entre em contato
com o seu eu interior.
Ótimo (pensei comigo), só não posso mostrar para ela, para
não surgirem mais “complexos” rs...
Fui embora chorando um pouco. Liguei pra minha mãe e ficamos
o dia todo juntas.
Minha mãe disse que concordava comigo, que estava feliz por
eu estar sendo racional e lúcida sobre minhas questões e que isso a deixava
mais tranquila, porque percebia que eu estava melhor, na opinião dela.
Tenho uma amiga, que quando contei tudo, disse:
- Você está aquela Candence que eu conheci antes de tudo
isso (doenças)! Se algum médico te entupir de remédio de novo (porque estou com
menos remédios que normalmente, pois tive problemas no fígado e
gastrointestinal, por causa deles), eu vou encher ele de porrada!!!!
Eu ri... Adorei ver que mesmo que a Dra. Gairmiúla discorde
de mim, algumas pessoas me veem de outra maneira. Na verdade, me veem como eu
me vejo. Para mim, isso está de bom tamanho.
Agora para saber como ficou a situação embaraçosa com a Dra.
Gairmiúla depois que eu li o texto e não achei nada parecido com a tal frase
que me desencadeou um novo problema de saúde, vocês terão que esperar o próximo
texto...
É, eu decidi deixar esse sem moral... Sorry!